Minhas lembranças estão guardadas em um baú mofado,
o tempo umedeceu as esperanças abandonadas ao acaso,
as traças tornaram rotas as vestimentas da felicidade,
o espelho oxidado revela uma imagem tosca e deformada.
Não há indicativos de minha idade real ou do que vivi...
Minha alma é como o retrato de Dorian Gray envelhecido e
no lugar do corpo, mas onde está o lucro de uma vida assim?
Aparência viçosa recobrindo um espírito alquebrado.
Espero o romper do encanto do espelho, no estilhaçar do
cristal o encantamento terá fim e o belo mostrará a feiura
pura e liberta de quem morreu e continuou insepulto,
abominação da vida encerrada em falsa beleza corpórea.
O desapegar-se da carne e o esvair do sangue teimam
em manterem-se unos com uma alma putrefata de fato.
O que é necessário para quebrar essa ligação sem elo?
Não há nexo em manter uma alma morta num corpo
ainda vivo, assim como também não há em manter o
Corpo vivo numa morte cerebral irreversível e atestada.
Exijo eutanásia!
§D§
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